Hyperborea Libertária

Moldbug sobre o Libertarianismo, Neocameralismo

Escrito por smartistone;

Traduzido por Pietro.

Do Moldbug: Why I am not a libertarian

Esse é um importante artigo que delinea as objeções do Molbug sobre o libertarianismo, e descreve sua proposta do “neocameralismo” como uma alternativa para a democracia e o libertarianismo.

Moldbug escreve:

“E essa é o primeiro motivo do porque não sou um libertário. Libertarianismo é, mais ou menos, basicamente, a ideologia da Revolução Americana. E a Revolução Americana foi, em minha opinião, mais ou menos, basicamente, uma revolta da plebe – liderados por líderes que foram ou sem escrúpulos, ou iludidos, ou ambos.”

A ‘Revolução Americana’ não é uma ideologia (apesar de ter sido ideologicamente motivada). Foi uma ação para legalizar, eventualmente, uma república constituicional, que, apesar de não concentrar o poder tão bem quanto uma monarquia absolutista, não é libertarianismo. Embora ele depois argumente que o libertarianismo é, essencialmente, revolucionária em sua teoria lockeana de ‘direitos naturais’ do ser humano.

“Em minha opinião, o problema prático que prende o libertarianismo nos ideais da Revolução Americana é que os americanos não mais seguem esses ideais, e europeus nunca seguiram. Ambos, hoje em dia, seguem um código moral que é essencialmente socialista. É verdade que isso é a consequência natural da “educação” na mão do governo que faz isso essencialmente socialista. Isso também é irrelevante. A consequência é a realidade. Você não pode explicar para pessoas que elas deveriam acreditar na, digamos, liberdadede contratos como um direito humano fundamental, quando elas em fato não acreditam. Como Hume, de novo, apontou, axiomas éticos não são debatíveis.”

A Constituição também garantiu a segunda emenda, que muitos da esquerda queriam restringir ou abolir. A alta taxa de posse de arma, assim como a cultura americana individualista, sugere que milhões de americanos não desejam concordar com o socialismo europeu. A república constitucional americana concede aos sujeitos seus direitos de propriedade, não apenas através do posse de arma, mas através da ‘Estado de direito’, considerando que libertários puristas e anarquistas tipicamente ignoram o último. Além disso, há alguns poucos libertários ‘absolutos’; muitos, como Nozick, Rand, e Rothbard, e eu mesmo, advogam uma forma de minarquia.

Alguns argumentam que a ‘America é socialista’ ou que a ‘America é comunista’, mas nenhum desses rótulos é correto. A America é um misto de muitas coisas – alguns elementos do libertarianismo (livre mercado capitalismo), alguns socialistas (aumento nos programas de direito), alguns autoritários (‘militarização da polícia, segurança interna, etc), alguns comunistas/marxistas (SJWs, marxismo culturas nas universidades). Se a America fosse comunista, como alguns erroneamente insistem, você não teria multi-milionários na web 2.0; você não teria a maioria dos listados na Forbes 400 sendo americanos. O governo da China é tecnicamente comunista, mas eles abandonaram o comunismo-de-mercado a um bom tempo, mais uma evidência de como há algo discretamente por trás desses rótulos.

Minha ‘teoria’ é que você começa com algumas suposições tácitas sobre como um governo deve funcionar, e chegando no equlíbrio entre poder individual e poder estatal você acabar com algo similiar com o que temos agora, embora com algumas mudanças. Alguns países são mais autoritários, outros mais livres; alguns mais socialistas, outros mais laissez-faire.

“Rejeitar a Revolução Americana é especialmente problemática para um libertário, porque os melhores escritores libertários do século 20 – Rothbard, Rand e Nozick – definiam libertarianismo como uma ética ideal. Provavelmente uma das melhores definições sobre libertarianismo mainstream (ou “anarco-capitalismo”, um termo que sempre me soou idiota) vem de um livro da perspectiva Rothbardiana: A Ética da Liberdade.

A EDL define os princípios morais que fazem o libertarianismo filosoficamente incombátivel. Nem preciso dizer que tais princípios não são outros senão os direitos naturais lockeanos da Revolução Americana. As raízes teleológicas de tais direitos são óbvias (Rothbard pode não ter sido cristão, porém Locke certamente era), e qualquer sugestão de que eles são, em algum sentido, filosoficamente universais viola o princípio do ser-deve-ser de Hume.”

Esse é o ponto crucial do argumento do Moldbug: Libertários acreditam em ‘direitos naturais’ e ‘liberdade’; monarquistas não.

Entretanto, eu ofereço uma ressalva resguardando externalidades e consequências. Libertários conservadores entendem que ações que tem consequências para os outros deveriam ser punidos, portanto limitando a ‘liberdade pessoal’. Por exemplo, eu tecnicamente tenho liberdade para acertar um soco em alguém, mas eu posso ir para a prisão. Tirando os fatores externos, considere a obesidade. Alguns podem argumentar que um estilo de vida não saudável é uma escolha pessoal, porém se seu estilo de vida impõe um custo na sociedade em termos de grandes despesas, talvez ser obeso ou viver de forma não-saudável pode fazer você perder seu direito de ir no médico de forma pública.

“Portanto, libertários princípios não podem ser justificados logicamente exceto com um apelo a tradições históricas que foram transmitidas para todos os americanos como sabedoeria via a veia patriota da árvore evolucionária. Um libertário, portanto, é fundamentalmente um conservador.

E se você admitir que os leais podem estar certos e que os patriotas são um bando de otários, o conservadorismo leva um corte bem no pescoço da navalha de Occam. Por causa que o pseudo “conservador” que é um Patriota – ou até mesmo um apoiador da Revolução Gloriosa” – é alguém que acredita no progresso até certo ponto, e nada além disso.

Embora tal tipo de posição pode na verdade se provar correta, há certamente nenhuma razão para dar o benefício da dúvida a isso. De fato, considerando o período de tempo que foi concedido tal benefício, é provável que ela deveria ser tratado como se ele fosse um frasco radiativo fervente de Ebola.”

Esse argumento é um caminho perigoso, no qual o progresso precisa eventualmente levar ao liberalismo pleno. Talvez seja verdade; talvez não. Ironicamente, um frasco borbulhante cheio de Ebola seria mais seguro em uma sala em temperatura ambiente, já que a temperatura deveria matar o vírus facilmente.

“Quero dizer, por qual motivo em nome de Deus alguém chegaria a conclusão de que o sistema político americano é de alguma forma passível de reforma? Fale sobre o triunfo da esperança sobre a experiência. E toda a energia, e dinheiro, e tempo, que os libertários beltway1 colocam tentando aplicar uma única mancha de batom em algum pedaço de carne próximo da boca de um porco é energia, dinheiro, e tempo não investido para botar a fera pra dormir. Além disso, como a história de Washington é que ela representa todo mundo, se encaixa em qualquer tamanho, contém multidões, alguns pseudolibertários que ficam de decoração podem ser a camlufagem certa para ela resistir às tempestades de outro século.”

Moldbug acredita no sistema per se, acima de dictomia de esquerda/direita, é irremediável e que o ‘conservadorismo’ ou ‘libertarianismo’ é somente por um batom num porco. Tudo precisa ser resetado, idealmente para antes da Revolução Gloriosa.

Moldbug acaba oferecendo sua alternativa para o libertarianismo, que é similar ao minarquismo, porém ainda tem uma diferença sutil:

“Minha preferência, como residente de Plainland, é simples, um governo libertário ou minarquista. Eu noticiei que a Washcorp não providencia esse serviço. A minha questão é: por que não?

Note como essa abordagem engenhosa se distancia da ética libertária do Rothbard. Nós tratamos a liberdade como um objetivo, ao invés de um ideal. Nós perguntamos: Como nós podemos desenvolver um sistema que vai alcançar esse objetivo, e mantê-lo de forma sustentável? […]

E é assim que o formalismo nos leva ao neocameralismo. Neocameralismo é a ideia de que um estado soberano ou uma corporação com ações primárias não é uma organização distinta de uma corporação secundária ou privada. Portanto nós podemos alcançar uma boa gerência, e portanto um governo libertário, convertendo os sovcorps2 para o mesmo modelo de gestão que funciona bem no setor privado atual – a sociedade anônima.

Ele chama isso de formalismo, que leva ao neocameralismo.

“Note que essa hipótese é totalmente testável. É perfeitamente possível criar cidades privadas. Das zonas econômicas especiais, que oferecem novas cidades (veja, por exemplo, a Árabia Saudita e sua entrada eminente no jogo) até as sovcorps é um passo pequeno. De novo, uma vez que os direitos de propriedades estão estabilizados, a diferença entre primeiro ou segundo proprietários são organizicionalmente irrelevantes. Governo é gestão, bom governo significa boa gestão, e má governo significa má gestão.

Se lhe parece absurdo imaginar o governo dos EUA como uma sociedade por ações, pode ser mais fácil para você pensar em cidades-estado privadas. Mesmo que nenhuma delas chegue de forma alguma perto do ideal neocameralista, as cidades-estado de Singapura, Dubai e Hong Kong certamente providenciam um serviço de grande qualidade ao consumidor. Note que nenhuma delas tem alguma forma de governo constitucional, limitado, ou democrático.”

Uma coisa chata é que eu mencionei Dubai algumas vezes nesse blog como um exemplo de governo moderno ‘recionário’, mas a ideia não ganhou atenção e ninguém falava disso. Eu quero dizer… existe – um exemplo de uma monarquia absolutista funcional – e ninguém fala sobre isso.

Mas outro problema é que ‘neocameralismo’ parece um pouco vago. Como as ações seriam alocadas? Quem fica com o quê? Eu tenho certeza que um bilionário iria ter mais ações do que um pobre. O que ocorreria se alguém começar a liquidar tais ações; isto pode causar inflação e outros problemas. A ideia num geral é tão utópica (mesmo para os padrão deste blog) que é difícil pensar que faz algum sentido. A solução dá mais medo do que o problema. Outro ponto é que o neocameralismo e outras formas de governo são raramentes discutidos na comunidade NRx.

Minha proposta de oferecer aos funcionários do governo opções na bolsa de valores, semelhantes às opções dos funcionários, é parecida.

Porém um problema é que todo esse debate ou é picuinha, ou pode não ter o resultado esperado e só começar outro debate. É verdade que sobre o neocameralismo não há mais democracia ou uma república constitucional, mas os resultados podem não ser muito diferentes dos atuais. Se o problema é degeneração moral (conteúdos sexuais na TV, pornografia, etc.), como a sociedade por ações iria resolver? Como resolver os SJWs 3 ou o feminismo crescente? Conservadores tradicionais, por mérito, são mais rigorosos com isso, enquanto em outras áreas eles costumam evitar o problema ou se ater a abstrações.

Mas já que tudo é quase igual no fim, minha solução é mais lenta: Gradualmente retirar as instituições democráticas obsoletas da América. Tecno-comercialismo4, por exemplo, é um bom começo – colocar caras como Thiel5 no comando.

Minha versão de libertarianismo, que eu chamo de ‘libertarianismo parcial’, é mais abstrata, com elementos de neoconservadorismo, Social-Darwinismo, futurismo, HBI6, e neoreacionarismo. Não o tipo comum BHL7 que é comum por aí.

Falta rever aí e colocar as notas

Notas Finais:

Artigo: https://greyenlightenment.com/2016/07/05/moldbug-on-libertarianism/

Traduzido por HyperAh.

  1. Resumidamente os paleo-libertários vendidos ao Estado, gradualistas “humanistas” que tem uma abordagem menos rigorosa aos direitos libertários

  2. As organizações que possuem e operam esses neoestados são corporações soberanas com fins lucrativos, ou sovcorps. (sovereign corporations)

  3. SJW é uma expressão em inglês para Social Justice Warrior, que em tradução livre significa Guerreiro da Justiça Social. É um termo para designar uma pessoa que apoia a justiça social a níveis extremos.

  4. No caso, uma tecnocracia focada totalmente no comércio.

  5. Peter Thiel é dono do controle de finanças e necessidades de capital do Facebook e co-criador do PayPal.

  6. HBI é uma sigla para Human Biodiversity Institute, ou em tradução livre, Instituto humano de biodiversidade.

  7. BHL é uma sigla para Bleeding Heart Libertarian, um grupo do libertarianismo de esquerda focado em justiça social.