Hyperborea Libertária

O que é o Agorismo e a Contra-Economia?

Feito por Pietro; Revisado por Sinhanes

Introdução

Como introdução, creio que seja necessário pontuar algumas coisas nesse início. A primeira coisa importante a se notar, é que o conceito desses termos foi definido em várias passagens em 2 livros do Samuel Edward Konkin III – O Manifesto do Novo Libertário, Uma Cartilha Agorista, e primeiramente irei apresentá-los, porém se pressupõe que o leitor já conheça o que é a teoria libertária. Caso contrário, é recomendável a leitura do capítulo 5 do Uma Cartilha Agorista, para uma rápida introdução ao libertarianismo. No futuro, também faremos um artigo explicando o que é a teoria libertária, mas agora fiquemos só no agorismo. No artigo de hoje, trago somente a definição de agorismo e Contra-Economia, porém trarei a definição de outros termos e aspectos, em outros artigos.

Para começarmos, trago a definição que o Konkin usa no Manifesto do Novo Libertário de agorismo:

“Se um partido político ou exército revolucionário é inapropriado e auto- destrutivo para os objetivos libertários, que ação coletiva funciona? A resposta é o agorismo. Ele é possível, prático e até mesmo lucrativo levar grandes porções da sociedade estatista para a ágora. Essa é, no sentindo mais profundo, uma atividade verdadeiramente revolucionária e será abordada no próximo capítulo. Mas para entender esta resposta macro, nós precisamos primeiro delinear a resposta micro.”1

Konkin fala que o agorismo seria uma ação, uma atividade, que por sua vez seria coletiva, e essencialmente libertária. Nesse caso, ele usa o sentido de ação de agorismo, o sentido prático, e falando como o gradualismo (um partido) e o brutalismo político (revolução armada) são anti libertários. Ele também põe uma nota no final, explicando o que seria o micro e macro:

“Micro e macro são termos da presente economia do Establishment. Embora a Contra-Economia seja parte do agorismo (até que o Estado desapareça), o agorismo inclui tanto a Contra-Economia na prática quanto o libertarismo na teoria. Uma vez que essa teoria inclui uma consciência das conseqüências de larga-escala da prática da Contra-Economia, eu usarei ‘agorista’ no sentido macro e ‘contra-econômico’ no sentido micro.”2

Ou seja, o agorismo nesse caso seria uma ação coletiva libertária consistente com a própria teoria libertária. Porém ele dá a entender que o agorismo é uma ação coletiva (macro), sendo a Contra-Economia uma ação individual (micro). Samuel também afirma que a Contra-Economia teria um carácter unicamente revolucionário, afinal pós revolução, o establishment seria uma sociedade livre, e a economia seria de livre mercado/não coercitiva, uma economia contra-establishment seria justamente uma economia coercitiva, não libertária. Por isso ele fala: “Embora a Contra-Economia seja parte do agorismo (até que o Estado desapareça).” Como o agorismo seria a ação coletiva, ele põe o adendo de que uma ação agorista é macro, já uma ação contra-econômica é micro. Partimos agora para a Contra-Economia e seu significado:

“A função da pseudo-ciência econômica do Establishment, ainda mais que fazer predições (como os adivinhos do Império Romano) para a classe dominante, é mistificar e confundir a classe dominada quanto a para onde sua riqueza está indo e como ela é tomada. Uma explicação de como as pessoas mantêm suas riquezas e propriedades longe do Estado é, então, a economia do Contra-Establishment, ou Contra-Economia, abreviadamente. A prática real das ações humanas que evadem, evitam e desafiam o Estado é a atividade contra-econômica, mas da mesma forma escorregadia que "economia" se refere tanto à ciência quanto ao que ela estuda, o termo Contra-Economia será usado. Uma vez que este texto é a própria teoria Contra-Econômica, o que será referido como Contra-Economia é a prática.”3

Edward começa falando da economia do Establishment – a economia que apoia direta ou indiretamente o Establishment – e como ela, como toda teoria estatista, tenta prever a ação humana para a casta dominante, e confundir os explorados para que os mesmos pensam que tudo que está acontecendo – guerras, impostos, qualquer agressão estatal ao indivíduo – seja legítima, ética. Ele também explica da onde vem o nome Contra-Economia: Economia Contra-Establishment; e põe um importante adendo: “A "Contra-Economia" foi criada da mesma forma que a ‘contra-cultura’; ela não significa uma ciência anti-econômica, da mesma forma que a contra-cultura não é anti-cultura.” Partimos agora para Uma Cartilha Agorista, e como Konkin define o agorismo:

“Agorismo pode ser definido de maneira simples: é pensamento e ação consistentes com liberdade.” 4

Ou seja: o agorismo é justamente a junção da teoria libertária com uma prática libertária consistente, nesse caso um método revolucionário ético, a Contra-Economia. Depois ele também afirma e explica do porquê a consistência é o motor primário do agorismo: “Persista na virtude da consistência. A recusa a se comprometer, se enganar, ‘se vender’ ou ‘ser realista’ criou o Agorismo.” 5 Logo depois, ele faz uma coisa importante; delimita que tipo de tese o agorismo é:

“Agorismo é uma ideologia, portanto, mas é também uma forma científica e definitivamente materialista de pensar. Não é uma visão religiosa — exceto que acredita que liberdade absoluta é moral— tampouco pretende tomar o lugar das visões religiosas de qualquer um — a menos que levem à escravidão. O Agorismo não deseja ‘verdadeiros crentes’ no sentido de seguidores cegos. Como toda forma de pensar baseada cientificamente, evoluirá conforme nosso entendimento da realidade.” 6

Logo no início ele já fala que o agorismo é uma ideologia – portante, distingue-se do anarco-capitalismo -, e fala algo que pode ser desvirtuado, distorcido, por aqueles que não entendem a doutrina agorista: “é uma forma científica e definitivamente materialista de pensar.” Pelo menos ao meu ver, Konkin quis tentar fazer a mesma distinção que Karl Marx fez com os outros socialistas da sua época, se chamando de científico, agora fazendo isso com o libertarianismo. Mas ao falar “forma materialista de pensar” ele não fala ignorar a metafísica, e fazer que nem os materialistas. Fala em sentido metafórico, de que o agorismo não se prende a algo metafísico que limite os indivíduos – como fazem os marxistas com o materialismo histórico, e o cristianismo com a moral irrelevante que os mesmos botam num pedestal. Para terminamos de falar sobre o básico, trago essa última definição de agorismo e Contra-Economia:

“Agorismo é a integração consistente da teoria libertária com prática Contra-Econômica; um agorista é alguém que age consistentemente pela liberdade e na liberdade.” 7 “Toda ação humana (não coercitiva) cometida em desafio ao estado constitui a Contra-Economia.” 8

Aqui, creio eu, se faz necessário também outra distinção: Contra-Econômico e Contra-Economista. A principal diferença aqui é que Contra-Econômico é o adjetivo de algo que é/faz parte da Contra-Economia, já o Contra-Economista é aquele que estuda e/ou pratica a Contra-Economia. 9

Outra coisa importante e pouca falada, é o conceito de Contra-Economia vertical e horizontal. Há duas menções a Contra-Economia vertical e horizontal no Uma Cartilha Agorista:

“À medida que mais pessoas rejeitam as mistificações do estado (nacionalismo, pseudo-economia, falsas ameaças e promessas políticas) a Contra-Economia cresce tanto vertical como horizontalmente. Horizontalmente, envolve mais e mais pessoas que ativam cada vez mais suas atividades em direção à Contra-Economia; verticalmente, significa que novas estruturas (negócios e serviços) crescem especificamente para servir à Contra-Economia (conexões de comunicação seguras, árbitros, seguro para atividades especificamente “ilegais”, formas iniciais de tecnologia de proteção e até mesmo guardas e protetores).” 10

Aqui Konkin fala que a Contra-Economia horizontal seria uma participação direta da Contra-Economia – ou seja, ações Contra-Econômicas em si – enquanto a Contra-Economia verticalmente seria ações que indiretamente ajudam a Contra-Economia, e algo mais no sentido macro, uma ação coletiva. Ele também faz outras menção a esse conceito no Posfácio:

“Poucas palavras podem ser apropriadas aqui para aqueles que gostaram deste livro, mas desejam avançar para as coisas profundas. Existem dois caminhos a seguir. Horizontalmente: pode-se mergulhar em economia, Contra-Economia, História Revisionista e outras áreas que não foram cobertas aqui, como a filosofia libertária, psicologia e literatura. Existem muitas fontes para aqueles que desejam checar algumas de nossas recomendações aqui ou se especializar em uma área de entusiasmo pessoal. Verticalmente há menos opções à serem seguidas, pois poucas publicações emergiram até agora deste movimento recente. Esse autor publicou o Novo Manifesto Libertário (New Libertarian Manifesto) para aqueles que desejam ir além de simples agoristas e virar ativistas, agentes de proteção avançada defendendo a Contra-Economia através de relações públicas, educação… e outros meios.” 11

Ele fala que horizontalmente o possível é justamente a ação individual direta – estudos em geral. E verticalmente ele cita os jornais, que na época eram o principal meio de Contra-Economia em coletivo. Derrick Broze também trata desse tema, porém usando uma definição errada:

“Vamos dar uma olhada em dois tipos diferentes de ação contraeconômica que são aplicáveis a uma variedade de indivíduos em uma variedade de situações de vida. Eu me refiro a essas estratégias como Agorismo Vertical e Horizontal.” 12

O problema aqui é que como já visto, o que existe é a Contra-Economia vertical e horizontal, não o agorismo. Afinal, como pode uma ideologia ser vertical e horizontal? Por isso o Derrick peca aqui, por dar margem a interpretação que Contra-Economia e agorismo são a mesma coisa. Mas ele faz uma referência boa, no caso, uma comparação:

“O crescimento vertical, no sentido konkiniano, envolve a criação real de contrainstituições às contrapartes estatistas. […] Per Bylund descreve sua visão da Contra-Economia vertical como a estratégia “introvertida” baseada no trabalho e nas ideias do libertário radical Karl Hess. [...] É esse foco no empoderamento da comunidade que Per Bylund se refere como estratégia vertical ou introvertida. Essas ações podem ser consideradas agoristas no sentido de que visam construir a autoconfiança e a comunidade em vez de depender de forças externas, mas não são explicitamente contraeconômicas porque não envolvem os mercados negro e cinza.” 13

Broze fala de como o foco na comunidade (o coletivo, as ações macro/agoristas) em ações que ajudem o coletivo como um todo, para fazer as ações individuais Contra-Econômicas, sendo estas ações voluntárias e com um fim em comum: o caminho à Ágora, à sociedade de livre comércio. Ele também dá exemplos de ações verticalmente Contra-Econômicas, porém estas não serão abordados neste post aqui em específico. Voltando ao assunto, dessa vez tratando da Contra-Economia horizontal na visão Brozeniana:

“Per Bylund descreve a estratégia horizontal, ou extrovertida, como mais diretamente relacionada às ideias de Konkin. O rótulo extrovertido está relacionado à escolha ousada de buscar ações que o Estado considera ilegais ou imorais.” 14

Para ficar mais claro, o que ocorre é:

Contra-Economia Vertical e Horizontal

Aqui entraria aquelas ações já comuns e descritas como Contra-Econômicas na maioria dos artigos e livros do Konkin, a ideia da economia individual que pode ser praticada e ter seus lucros de forma quase que instantânea. Por fim, para delimitar o que é Contra-Economia, irei fazer a minha definição final:

A Contra-Economia em sentido macro/vertical/introvertida é uma ação coletiva (ação agorista), para apoiar direta ou indiretamente a Contra-Economia micro/horizontal/extrovertida, que é uma ação individual (ação Contra-Econômica), no âmbito vertical criando instituições ou redes que se contrapõem ao Estado (o Establishment), e no âmbito horizontal utilizando dessas redes para fazer uma economia fora do Estado, contra o Establishment.

Notas Finais:

  1. Manifesto do Novo Libertário, pág 17

  2. Idem, pág 23

  3. Idem, pág 17

  4. Uma Cartilha Agorista, pág 6

  5. Idem, pág 6

  6. Ibidem

  7. Idem, pág 8 e 9

  8. Idem, pág 40

  9. Ibidem

  10. Idem, pág 95

  11. Idem, pág 102

  12. Contra-Economia: Fugindo das garras tecnocráticas do Estado, pág 25

  13. Idem, pág 25, 26 e 27

  14. Idem, pág 28