Hyperborea Libertária

Uma estratégia para minar o Estado até seu verdadeiro lugar

Escrito por Per Bylund

Traduzido por Pietro; Revisado por Sinhanes

Introdução

Como libertários, nós gostamos de discutir duas coisas: O que pode ser feito e o que está errado com a sociedade hoje. Alguns de nós estão intrigados com a promessa de uma sociedade livre, sem se importar se advogamos pela abolição total do Estado ou então pelo radical corte de seus poderes. Esse tipo pensamento deixa sua mente livre para sonhar sobre todas as coisas que poderiam acontecer se não fosse no sonho pelo Estado de bem-estar social / Estado de guerra.

Alguns libertários sentem a adrenalina fluindo quando falam sobre a injustiça causada pelo Estado às pessoas: como imigrantes sendo obrigados, por torturas, a voltar porque eles não estão lá de forma "legal"; como pessoas pobres precisam se manter fora do mercado por causa das leis de salário mínimo; sobre os pequenos empresários sendo forçados a entrar na corrupção dos bancos por causa das enormes regulações e restrições sem sentido; sobre como o cara médio por ai é forçado a ter sua propriedade roubada pelo "bem comum"; sobre pessoas literalmente sendo taxadas até à morte.

Entretanto, há aqueles que não conseguem evitar discutir qualquer um dos dois.

Mas tem poucos de nós que querem discutir a estratégia. Usualmente paramos no "é" ou no "deve" - mas desejamos evitar o ‘’que fazer." É bastante óbvio que precisamos de uma boa estratégia para sair de onde estamos, para ir aonde queremos, i.e., do"dever-se" para o "é." Alguns de nós se envolvem em ativismo político em partidos do establishment, ou outras coisas de liberal. Mas não importa o que fazemos, não parece estar funcionando; ou parece? O Partido Libertário não consegue nem 1% dos votos na eleição Presidencial e os libertários envolvidos no Partido Republicano ou no Partido Democrata obviamente não conseguem mudar o rumo do partido.

Para mim, parece que a política não é o caminho certo. Atualmente, a maioria das coisas que estamos fazendo não parecem certas - elas não estão sendo muito eficientes; elas, ao menos, não o são suficientemente. Muito embora existam numerosos clubes, sociedades, institutos e organizações libertárias no mundo - e estes sejam profissionais e bem-sucedidos -, eles não são suficientemente bem-sucedidos. E, em nossos próprios países da Europa de América do Norte, nós não estamos realmente indo para a direção correta.

Então o que podemos fazer? Eu acredito que nós precisamos praticar o que pregamos — não podemos ser ''libertários de biblioteca''1, e esperar que as pessoas confiem que estamos certos. Precisamos mostrar para as pessoas que esse é o caminho correto; nós precisamos mostrar para eles que é possível libertar-se e fazer isso sem muito perigo para si, ou para a família. Eu tenho discutido com alguém aqui e ali, bastante vagamente e teoreticamente, mas aí está uma ótima orientação de ótimos escritos de ótimos homens. O problema é: parece que algumas pessoas não conhecem essas pérolas, apesar de que são escritas de libertários para libertários. (Eu me arrependo muito, muito mesmo, de não achar esses ótimos textos mais cedo.)

O que eu estou propondo é a mistura de um pouco das duas fórmulas conhecidas que estão realmente nos liberando em dois caminhos diferentes. A primeira escrita dá instruções de como podemos libertar-nos verticalmente através da construção de comunidades livres, evitando o Estado e suas "soluções" centralizadoras. A outra tática advoga pela libertação horizontal, fazendo uso da rede de amigos ou colegas, e fazendo negócios fora do alcance do Estado. Alguém pode chamar essas estratégias para solucionar nosso problema metodológico como táticas introvertidas e extrovertidas.

A base de ambas as teorias é o entendimento da vida à nível micro ao invés de ver o mundo somente por cima. Não se é necessário focar no governo federal ou como forçá-lo a recuar. Você não pode ganhar do Estado mano a mano, então por que se incomodar? Mas é quase impossível se libertar numa pequena escala e fazer isso sozinho. Eu não tenho ideia por qual razão os libertários parecem desejar libertar "a nação inteira", ao invés de fazer o que é melhor para si mesmo e sua família primeiro. Não é muito individualista e libertário pensar coletivamente na população primeiro, com o único resultado de ter você sendo preso. (Eu usualmente me refiro a isso como o "Complexo de Salvador" ou "Complexo de Messias", a convicção estranha de que um precisa libertar todos da raça humana em ordem, para, enfim, libertar a si mesmo.)

A Estratégia Vertical Ou Introvertida:

Como já foi brevemente constatado, essa estratégia consiste em sair das grandes estruturas do Estado para uma escala muito menor de infraestruturas e tecnologias construídas para apoiar suas comunidades. Eu estou chamando essa estratégia de vertical já que isso é literalmente o significado de sair do modus operandis centralizado do Estado para uma vida de maneira localista, descentralizada, bem-harmoniosa. Está no mesmo jeito a estratégia no sentido de que é melhor olhar para o que podemos e não podemos não fazer, isto é, usar os recursos disponíveis ao invés de desejar o inalcançável.

O que isso significa na prática é criar um local (virtual ou não) para autossuficiência, onde pessoas nas proximidades conseguem juntas achar meios para produzir qualquer coisa que seja necessária para uma sobrevivência e uma boa vida. Isso significa criar uma produção local com comodidades e mercados sem alguma regulação efetiva do Estado e sem o conhecimento estatal.

Karl Hess discute sobre as enormes possibilidades dessa abordagem em seu ótimo, porém curto livro: ‘’Tecnologia Comunitária’’2. No livro, Hess discute sobre a sua própria experiência de criar uma rede de comunicação local para criar bairros livres e independentes através da troca de "serviços" estatais pelos da comunidade tecnológica e voluntária compartilhados nas atividades e projetos do bairro produzindo vegetais nos telhados e criando peixes em porões.

A experiência do Hess insinua que alguém pode suprir uma demanda de vegetais de um bairro inteiro através da criação de jardins numa fração pequena de telhados disponíveis. Usando também o bombeamento de antigas máquinas de lavar e restos de materiais de construções, o pessoal dessa comunidade conseguiram criar peixes facilmente produzindo centenas de libras de peixe anualmente.

Isso pode não combinar com você, mas aqui estão só dois exemplos das enormes possibilidades de se juntar para providenciar soluções aos problemas da comunidade. Esse projeto em específico do Hess foi feito in Washington D.C., o que mostra que é possível criar de certa forma algo comunitário e independente, mesmo em áreas bastante urbanas. A vizinhança que não depende do Estado para suprimento é uma vizinhança que não é facilmente conquistada. Da mesma forma, uma comunidade não é facilmente punida pelo governo se sua independência é descoberta e a ameaça é considerada real. A comunidade não sofre se o governo se recusar a suprir os serviços que eles davam, se primeiro a comunidade não for totalmente dependente desses serviços.

O ponto que eu estou tentando criar aqui não é que todos devemos viver de forma agrária, ou viver como os homens das cavernas e crescer com os nossos próprios vegetais. Estou dizendo que devemos parar em termos de centralização e produção à larga escala. Hess saliente o fato de a maioria, se não toda tecnologia importante é igualmente ou melhor situada numa escala de nível menor, usada à nível familiar ou comunitário. Nós não precisamos depender de corporações globais ou o Estado-nação para pegar em nossas mãos o que nós valorizamos na vida. A tecnologia comunitária mostra justamente isso.

A Estratégia Horizontal ou Extrovertida:

A outra estratégia simplesmente significa participar e criar ativamente redes e estruturas para mercados negros. Eu chamo essa estratégia de horizontal porque é simplesmente o mercado livre em ação - indivíduos trocando voluntariamente seus objetos entre si. É também extrovertido no sentido de que não necessariamente foca no bairro ou na comunidade, mas pode ser facilmente se estender por todo o Estado, ou uma cidade, e funcionar de forma paralela com a estrutura coercitiva do Estado

O que basicamente é proposto aqui é trocar com pessoas que você conhece e pessoas que são recomendadas para você. Isso tudo pode ser feito em qualquer escala que seja apropriada para isso, usando a tecnologia disponível como a internet, i.e, o Mercado para comunicação e transições monetárias. A primeira etapa pode ser contratar os filhos dos vizinhos para cortar a grama ou então cuidar de bebês. Não precisa ser algo sofisticado de primeira.

Essa abordagem deveria vir naturalmente dos libertários, já que simplesmente é exercer trocas sem se incomodar com as regulações estatais ou pagar taxas. Muitas pessoas estão dispostas de trocar bens e serviços sem registrar os impostos, o que é um bom começo. Alguns deles também irão preferir fazer isso em grande escala, produzir e distribuir bens e serviços sem pagar taxas ou seguir regulações e controles governamentais desnecessários. E muitas pessoas não se importam muito com as normas estatais se ela confiam em seu fornecedor primário: a comunidade.

É provável que alguns libertários em algumas cidades estejam interessados em começar um sistema de trocas livres e privadas. Essa rede pode crescer e achar outras redes para trocar entre elas e assim cobrir a variedade de bens e serviços em largas áreas e talvez continentes inteiros. A beleza disso tudo é que vem naturalmente, e é intuitivo para pessoas trocarem favores, bens, e serviços sem antes perguntar se o Estado permite ou não.

Essa estratégia foi originalmente proposta pelo agorista Samuel Edward Konkin III, autor do Manifesto do Novo Libertário, no qual ele elabora a estratégia da Contra-Economia. A estratégia do Konkin supostamente começa localmente e desenvolve-se em redes de trocas internacionais a nível regional, estatal, e nacional. Quando grande o suficiente, o que não é necessariamente grande como um todo, a demanda de proteção e alguém para cumprir contratos surge nessas redes de livre mercado. Talvez, eventualmente essa estratégia possa, por meio de mecanismos voluntários e orgânicos do mercado providenciar serviços competindo com as funções e servições "essenciais" do Estado. Isso mina o poder do Estado e poderia facilmente substituí-lo.

É fácil ver a beleza e o poder da ideia de Contra-Economia do Konkin como um meio para uma mudança revolucionária, especialmente por causa da sua simplicidade e sua intuitividade para os libertários. Isso coloca alguns princípios libertários em prática através da ação individual e durante esse processo mina o poder do Estado.

Combinando os Dois:

Mesmo que a ideia do Konkin seja simples, eficiente e principalmente superior em comparação a outras alternativas, não é sempre aplicável para todo mundo. Para alguns talvez possa ser vantajoso não participar das atividades contra-econômicas, talvez por causa de algumas certas convicções ou demasiada confiança em produtos que são dependentes dos serviços estatais. Nesse caso, pode ser benéfico começar com uma tecnologia para a comunidade.

Embora o conceito do Konkin envolva tais ações e redes locais para maior confiança da comunidade, ela não enfatiza a importância delas. Enquanto a tecnologia comunitária enquanto método é aplicável para uma certa uma área onde pessoas vivem e trabalham, as ações contra-econômicas não estão restringidas por limites geográficos; e enquanto uma forte comunidade local não precisa de trocas com o mundo "de fora", não há garantia que a prática de contra-economia poderia identificar as vantagens de providenciar importantes serviços localmente.

Redes de contra-economia podem crescer muito mais forte se combinadas com essa ideia do Karl Hess de que pessoas são hábeis para e beneficiam-se caso a produção de bens e serviços essenciais sejam locais. Imagine os contra-economistas na web, junto com comunidades soberanas com produção de comidas e tecnologia excedendo a demanda interna. Isso combinado com o movimento contra-Estado para benefícios e lucros próprios poderia providenciar um poderoso adversário para o Estado.

As comunidades também iriam se beneficiar das grandes vantagens de uma organização libertária, não-hierárquica (i.e., the horizontal web through market transactions). Os Estados funcionam unicamente como estruturas centralizadas de poder e regras, e não se pode lutar contra um inimigo tão diverso e individualmente motivado como um movimento contra-econômico baseado parcialmente numa comunidade tecnológica e soberana.

O que essa estratégia combinada se resume em uma rede de atores descentralizada, voluntária, espontânea e com fins lucrativos, onde nela, fazem o que compreendem que seja benéfico e assim substituindo a maioria das funções do Estado. Isso iria prover também uma solução para o problema de discussões sobre unicamente o que é errado e como deveria ser - por meio de fazer a coisa certa onde o Estado faz merda. Isso significa agir onde é mais importante e onde é mais benéfico.

Não é realmente importante se nós como libertários advogamos pela queda total do Estado ou só apenas o corte radical de seus poderes (minarquistas); A solução é a mesma. Nós estamos bem seguros individualmente do que nós queremos fazer e como as coisas deveriam funcionar se não fosse o Estado, e nós sabemos qual o problema do mundo hoje em dia: coerção estatal.

O único problema que nós estamos tendo é como poderíamos chegar lá e como lidar com o quer que aconteça conosco. A solução atualmente resolve os dois problemas providenciado a base para lucro próprio e criando qualquer solução que você queira - enquanto mina o poder do Estado. Então o que estamos esperando? Just do it.3

Notas Finais:

Artigo original: https://www.lewrockwell.com/2006/05/per-bylund/a-strategy-for-pushing-back-the-state/

  1. Libertários de biblioteca, como descrito pelo SEK3 no Manifesto do NL, pág 25, são "aqueles que professam alguma variante teórica de libertarismo mas rejeitam a prática." (N.T.)

  2. Este livro, junto com o "O Poder da Vizinhança" do mesmo autor, foram traduzidos pela Editora Konkin e postados juntos no livro "Verdadeiro Localismo". Link de acesso: https://universidadelibertaria.com.br/download-do-livro-o-verdadeiro-localismo/. Link de acesso secundário (caso caia ou ocorra algum outro imprevisto): https://archive.org/details/tecnologia-comunitaria-e-o-poder-da-vizinhanca-o-verdadeiro-localismo

  3. Expressão em inglês para "Faça agora!"